Entrevista com o guitarrista Luís Maldonalle

Luís Maldonalle é um icônico guitarrista goiano. Bastante dedicado e atuante na cena musical de Goiânia, se tornou uma referência na cidade devido à sua caratcerística virtuose de tocar e por ter adquirido uma valiosa bagagem de conhecimento no decorrer de sua carreira. Assim, se tornou um músico respeitado e requisitado, dedicando-se ao trabalho de compositor e arranjador, produtor musical, músico de estúdio e professor de guitarra. Agora ele contará para você como a sua trajetória musical se iniciou, dando detalhes do seu desenvolvimento como músico profissional e falando um pouco mais sobre seu crescimento musical junto com a cena underground goianiense, seus gostos pessoais, aberturas de workshops para guitarristas famosos e sobre seus planos para o futuro como músico. 

por Mário Megatallica

Maldonalle, conte como e quando foi o ponto de partida da sua jornada como músico. Quando ocorreu o primeiro contato com o Rock/Metal... fale da sua primeira guitarra, das primeiras aulas e das bandas que influenciaram você como músico. 

Bom, eu simplesmente não me lembro qual o ponto onde eu realmente decidi ser obsessivo pelo instrumento (rs). Sou neto de Maestro, apesar de não tê-lo conhecido. E fui autodidata, era muito difícil conseguir um bom professor; e quando não era isso, simplesmente não tinha como pagar pra ter aulas. Eu já me interessava por música, rádio dos anos 80 e trilha de filmes. Let There Be Rock - o filme do AC/DC foi um dos responsáveis pela minha atração, ou a decisão pela guitarra. O Metal (Metal clássico e o Trash Metal da Bay Area) veio logo em seguida. Em breve eu estaria envolvido com os guitarristas da Shrapnell Records como Vinnie Moore, Paul Gilbert, Joey Taffolla, Greg Howe, Jason Becker, Marty Friedman, além do Malmsteen, que mudou por completo a minha relação com o instrumento. 

A partir daí, nada mais importava, toquei de oito horas até 22 horas por dia. Era como um lugar mágico - você, a guitarra e mais nada. É claro que nessa época, tudo era muito lúdico e você achava que poderia realmente mudar o mundo ou ser como os seus heróis. Mas a verdade é que guitarristas, qualidade e oportunidade, dificilmente eram encontrados na mesma frase no fim dos anos 80 aqui em Goiânia. Um simples pedal da Boss era motivo para ir a pé até Trindade (nota: santuário religioso de Goiás) e grande parte do meu aprendizado - se não todo - foi feito com instrumentos que não davam a menor estrutura e sem a chance de plugá-los em um amp ou saber como soava aquilo que você tocava. Fazíamos palhetas de vinil e sequer sabíamos o que era um luthier. Eu mesmo fiquei sem instrumento por um ano e meio, tocando sempre com instrumentos emprestados. O acesso a equipamento e às referências eram bem difíceis. Tampouco havia lojas como hoje temos aqui. Algo que devo ressaltar foi que minha mãe nunca impediu que eu não me dedicasse e me comprometesse com instrumento - algo difícil de se ver por aí... Com relação ao instrumento, tinha uma extinta loja, chamada Fênix, que tinha uma Ibanez RG 750 exposta em sua vitrine, acho que fiquei parado em frente àquela vitrines por uma eternidade... Eram outros tempos, ninguém sabia sobre a diferença entre calibres de corda, ou para que servia determinados pedais. Talvez por isso, essa geração tenha uma relação mais visceral com a música, não havia Youtube, lojas, internet, o que fez com que todos, se desdobrassem para conseguir o que queriam. 

Hoje os garotos tem muita dificuldade de desenvolver a percepção musical, ou conhecer a obra de uma banda em sua ordem cronológica. Alguns não conseguem tocar Nirvana nem com um detalhado songbook. Os são mais avançados do que estes posam como "guitar heroes". E isso pode ser fatal para o não estabelecimento artístico de um guitarrista ou da cena local. A maioria acaba por queimar etapas, se escondem atrás do avatar do virtuoso mas sequer diferem a escala maior de uma menor. Há uma enorme diferença entre viver de música e viver da sua música. 

Você surgiu como destaque na cena através da banda Black Rain no fim da década de 1980. Conte como foi a sua história com essa banda. 

Black Rain foi o primeiro trabalho levado de forma mais séria, pelo menos da minha parte. Tinha aquele ingrediente básico de a banda ser formada por amigos. Estávamos motivados e todo início é quase sempre um grande aprendizado. Mas éramos muito novos, o que não permitiu uma sequência tão longa do trabalho, mas as composições já davam mostra de um amadurecimento em termos de estrutura, linhas melódicas e refrão. Se tivéssemos a chance de ter dado sequência no trabalho, provavelmente, seria positivo o que teríamos feito. Mas sem dúvida, foi uma grande época para nós. Essa trajetória acabou coroada com o Ban Rock, um festival local em que fomos vencedores, registrando duas músicas em vinil. 

E após tocar com a Black Rain você resolveu investir na sua carreira solo. Daí surgiu a “demo-tape” Midas Touch em 1993, que chegou a receber avaliações em duas grandes revistas daquela época. Conte um pouco dos bastidores da produção desse trabalho e fale da importância dele para a sua carreira. 

Bom, sem dúvida, que foi um divisor de águas para mim, mais no sentido de mergulhar a fundo na guitarra, de pensar em tudo por um outro prisma. As dificuldades eram imensas, infra estrutura, tempo, dinheiro e principalmente: mão de obra especializada. Não se fazia isso bem àquela época, ninguém gravava rock com qualidade por aqui. Tudo era gravado em "one take", ou seja, de primeira. As revistas foram: Rock Bridgade e a extinta Tok pra quem Toca. Na época, foi um grande empurrão e um estímulo de verdade, ter resenhas favoráveis vindas do eixo RJ - SP. E, tampouco, haviam pessoas envolvidas com trabalhos solos, principalmente instrumental. Hoje este segmento está mais solidificado e muito bem representado através de várias facetas musicais em todo território nacional. O que era impensável àquela época. 

A partir do lançamento de Midas Touch, você se tornou um guitarrista bastante conhecido na cena de Rock de Goiânia e passou a ser requisitado por várias bandas. Apesar de frequentar o meio musical roqueiro, você acabou “flertando” com o mercado de música Pop quando entrou para a banda de pop-rock Laia Vunje. O que fez você aceitar o convite para entrar nessa banda? 

Eu sempre gostei de música e não de rótulos. É bom que se diga que nunca vi a mim mesmo como um músico; minha relação não é só com o instrumento e sim com a música. Não sou luthier, sou guitarrista. Não gosto do estigma, do "músico"... é bem limitado pensar desta forma, até porquê, me interesso por outras formas de arte. A Laia Vunje foi um momento de transição na cena de Goiânia e acabou por reforçar o que até aquele momento era um tímido movimento musical. Eu fiz a minha parte com muita dignidade e entrega, como sempre fiz em todos os projetos, apenas o modo e expressão eram diferentes, estrutura, acordes, além da própria proposta, mas nunca vi essa fase como algo a esconder. Estávamos em uma gravadora "major", acho que isso para o padrão existente aqui é bem significativo. O "line-up" da banda tinha um valor musical bem acima da média. Não consigo ver música como um produto enlatado sobre na prateleira de supermercado. O termo Pop-Rock é um erro. Eu cresci e fui criado ouvindo Rock, em várias de suas vertentes, mas estou em contato com boa parte dos segmentos musicais oriundos de Jazz, Blues e Rock, ou qualquer coisa que me interesse, de Coltrane a Slayer ou MC5 a Bon Jovi. Acho que acabei sendo privilegiado em participar dos projetos musicais (boa parte deles) no momento certo. Estamos falando de quinze anos atrás. O que muda consideravelmente a cena que temos hoje. 

E como que foi tocar com a Laia Vunje? Conte mais detalhes do seu trabalho com essa banda. 

Foi uma oportunidade de trabalhar com repertório autoral e era uma boa proposta àquela época. Muita coisa ainda estava sendo descoberta por aqui. A gravadora Abril, que veio como a chave para o sucesso, acabou sendo o "calcanhar de Aquiles". Tocamos em vários lugares, festivais, programas de tevê e a banda tentou ir até onde foi possível. Mas... o rompimento com a gravadora foi inevitável. A relação deteriorou-se a partir disso. E tínhamos a banda de um lado e o vocalista e a empresária de outro. E após o disco com orquestra (que diga-se de passagem, tem grandes arranjos e uma boa composição, estragada por uma produção desastrosa) eu me desliguei por completo do projeto. Principalmente por não se tratar mais de música. 

Após deixar a Laia Vunje, você deu outra virada na sua carreira retornando para a cena Rock/Metal, desta vez entrando para a banda In Bleeding – que inclusive mudou perceptivelmente de estilo após a sua entrada. Conte como foi esse retorno ao Metal, o que rolou nos anos de trabalho com essa banda e fale sobre a concepção do CD Phobia

Na verdade, eu toquei paralelamente nos dois projetos. A entrada no Inbleeding, ao menos para mim, foi natural. Eram e são meus amigos, precisavam de um guitarrista, e eu até sabia as músicas, pois fui em vários ensaios. Então achei esse processo bem natural. A banda já queria dar essa guinada no estilo, acho que eu só facilitei as coisas. A banda tinha uma grande noção do que poderia ser feito. Tocamos em uma infinidade de festivais e shows por aqui, e depois de um bom tempo - a banda tem mais de dez anos - resolvemos fazer um trabalho de estúdio com o máximo de qualidade, já que a demo tape Inferno de 2003 tinha sido destaque do mês na revista Rock Bridgade. Então foi assim que decidimos compor o Phobia. Eu acho esse álbum realmente, ou talvez até, terrivelmente subestimado... é um grande disco! As músicas são bem estruturadas, há momentos intrínsecos com relação à guitarra, o que eu chamava àquela época de "partes perigosas". A produção é muito acima da média e o som tem uma personalidade que acabou por trazer uma áurea interessante para o Cd, principalmente aqui em Goiânia, onde somos carentes com qualidade nesse estilo. Talvez se fosse de uma banda de São Paulo, ou Minas, teria outro tipo de aceitação e repercussão. Mas como disse antes, as coisas aqui são sempre mais difíceis. 

Em 2006 você resolveu investir novamente na sua carreira solo e entrou novamente em estúdio para gravar o CD Manicomial com a ajuda do produtor Gustavo Vazquez. Eu gostaria que você contasse o quanto essa parceria influenciou no resultado final do álbum e falasse sobre como ocorreu a concepção dele, assim como o tema por trás de suas músicas. 

Na verdade, eu e o Gustavo trabalhávamos juntos. Naquela época o estúdio se chamava Manicomial. Esse Cd foi o primeiro álbum instrumental com a questão temática, envolvendo distúrbios psicossomáticos, de que tenho conhecimento. E as músicas traduzem um pouco disso; por isso, algumas escolhas durante a produção e concepção do álbum foram intencionais, como: polirritmias, acordes suspensos - algo difícil de se ver no Metal - e progressões não tão usadas. Desta forma eu acabei optando por usar escalas alteradas e alguns modos derivados do campo menor harmônico e menor melódico. Os títulos, as escolhas, todas refletem essa ambiência. Era um trabalho dedicado às pessoas com esses distúrbios. E acho que dentro do que foi concebido, ele atendeu à essas expectativas de ser realmente denso e hermético em grande parte do tempo. 

Como o disco foi feito sem um baterista, o Gustavo foi quem programou as baterias - com exceção da música "Dwelling Between The Poles", que foi feita por você Mário Megatallica (nota: o editor do BlogAeRR teve uma participação especial neste álbum). Perdemos um pouco da ambiência que provavelmente teríamos com uma bateria orgânica mas experimentamos o suficiente com timbres e texturas, tentando compensar. E mais uma vez, eu tenho que ser sincero e confessar que realmente fiz o que pensava e estava em minha mente àquela altura. Às vezes eu chegava para gravar e não tinha a menor ideia do que iria fazer, mas as coisas fluíam e praticamente todos os takes de solo foram feitos de primeira; não por achar que isso possa trazer alguma vantagem como guitarrista mas para manter a naturalidade e espontaneidade em um trabalho que tinha a mente, que era o processo de distúrbios, em primeiro plano. 

Como você compararia o processo de produção dos seus dois trabalhos solos, de 1993 e 2006? 

É um salto quase impensável, principalmente pelo intervalo de tempo - 13 anos. Muito havia mudado. Tudo feito com plataformas e softwares que sequer existiam àquela época. Hoje você pode registrar suas ideias até em smartphones e tablets. Ter o instrumento plugado em amps valvulados, ou um portfólio de pedais para cada parte específica, é bem fácil e motivador. Hoje, quase nem se pensa sobre isso, você acaba mecanizando o que é prático e funcional dentro de um estúdio. E boa parte dos discos são feitos de canções e texturas. Na música instrumental isso pode ser um pouco diferente pois a guitarra vem muito em primeiro plano; quem consome este tipo de música espera algo isso e talvez a questão da canção, a música, fique um pouco em segundo plano. E toda a questão estético musical e artística eram quase negligenciados àquela época, o que acho natural porque vivíamos com um "delay" de informação de quase dez anos em Goiânia. 

Sendo considerado um dos melhores guitarristas que Goiânia já teve, você passou a realizar workshops de guitarra e também participar da abertura de workshows de vários guitarristas famosos que se apresentaram na cidade, como Eduardo Ardanuy, Michael Angelo, Kiko Loureiro e Ritchie Kotzen. Eu gostaria de saber o que você mais leva em conta quando vai realizar um workshop e como foi poder participar de eventos com guitarristas de importância nacional e internacional. 

Olha, sinceramente, eu nunca fui muito deslumbrado com essas coisas. É claro que se em 1991 você me dissesse que eu abriria o workshop do Richie Kotzen, aqui em Goiânia, não haveria como pensar sequer nessa remota chance e provavelmente eu pensaria que você deveria ser internado (rs). Mas eu sempre defendi com unhas e dentes o fato de representar bem a oportunidade. Não pelo ego ou vaidade... penso que essas coisas devem caminhar longe da arte. Eu pensava em representar da melhor maneira: o Estado, a Cidade, o Povo e a Arte acima de tudo. Que aqui poderíamos fazer isso da melhor maneira possível - por quê não? Mas infelizmente, nem todo mundo pensa assim, ou defende esta ideia. Talvez, por isso, tenhamos uma cena tão fragmentada e que vive de lampejos, vaidade e críticas. Após quase trinta anos tocando guitarra (e eu não penso isso agora) acho que a arte - música - é mais importante do que tudo, é o que fica. Não o estereótipo do Metal/roqueiro de fim de semana. Com suas belas estampas ilegíveis em camisetas pretas cheirando a naftalina. Além da qualidade individual e conjunta, deixada atrás da pose de mau. Eu posso dizer e afirmar que vivi a cena musical em toda sua plenitude. E com a vantagem de nunca ter me rendido a algo que não fizesse parte da minha filosofia musical. 

A experiência adquirida durante todos esses anos possibilitou que você trabalhasse como produtor no estúdio Rocklab juntamente com Gustavo Vazquez. Conte como você desenvolvia a sua função nos trabalhos produzidos nesse estúdio. 

O Gustavo é um grande amigo meu, a melhor mão de obra especializada que eu já vi, sem dúvida, e tive a felicidade de trabalhar por dez anos no Rocklab. Sem dúvida meu leque musical cresceu muito, estávamos sempre falando sobre musica de forma verdadeira e sem rótulos. Aprendi bastante ali. E acho que dentro do possível acrescentei muito também. Eu sempre participei de alguma forma com as produções, mais na questão de arranjos. Mas para mim, àquela altura, o importante era o contato com música e desdobrar com o trabalho de arranjos e possibilidades. Além de ter feito participações ao ponto de não conseguir lembrá-las ou contá-las, durantes esses dez anos. Realmente estar lá, foi um capítulo bem importante na minha carreira. 

E sobre o seu trabalho como professor de guitarra? 

No momento eu desativei o modo professor (rs). Mas eu leciono desde 1994 pelo que eu me lembro... É uma ótima forma de rever os conceitos, estudar e tentar sempre estar à frente do conceito de ensino. Acabei conhecendo muitas pessoas assim, grande parte hoje são grandes amigos meus. O que ratifica que algo realmente foi bem feito nesse sentido. Nos últimos anos eu já não tinha o mesmo tempo e dedicação, outras coisas tiveram que ser priorizadas.Para quem se interessar, eu ainda mantenho um curso via email com vídeos e um canal aberto para explicações e as dúvidas recorrentes. 

Você participou da produção do DVD Unright Way To Music. Fale sobre ele e o que ele representou para você musicalmente. 

Sim, na verdade o DVD foi feito por mim junto com Paulo A. Concierno, um amigo que resolveu abraçar esse projeto. Foi tudo feito com material pessoal e a ideia era resumir e destacar o material entre 1988 e 2007. Não foi uma tarefa fácil... digitalizar e ter acesso a coisas tão antigas assim. Foi tudo feito de maneira caseira. Eu até dizia em workshops e na própria divulgação que se tratava de um Dvd Home. Mas acho que é bem significativo para a história da guitarra e música local. Aqui, em Goiânia, temos dificuldade de aceitar muito do que nós fazemos, que é feito aqui, principalmente quando se tem posições claras sobre a cena e o que acontece com ela - que é o meu caso. Mas eu fiquei muito satisfeito com o resultado. Provavelmente será disponibilizado no Youtube também em 2013. 

E, falando em DVD, certamente você deve se orgulhar bastante com a sua série de DVDs didáticos. Fale sobre como surgiu a ideia de lançar video-aulas para iniciantes e como se desenvolveu o processo de produção destes DVDs. 

Eu fui procurado pela editora Leme e resolvemos através de algumas reuniões como deveria ser o formato e apesar de ser algo vendável eu realmente gostaria que esclarecer algumas coisas para as pessoas; sei o quanto é difícil o inicio com o instrumento. Então, uma séria de Dvd’s em uma ordem cronológica de aprendizado seria interessante. Mas, mais uma vez, tínhamos a dificuldade de material e tempo, tudo o que foi tocado nos vídeos foi de primeira, o que ratificou a chance de lançá-lo mais rápido. Como era esperado, eu não tive muito acesso ao que era vendido, mas sei que vendeu bem. E como eu não estava nesse projeto única e exclusivamente por dinheiro, não me importei muito. A princípio, o Dvd teria um link com a apostila para download, esclarecendo a digitação, com tablaturas de cada exercício e licks. Mas isso acabou não sendo feito pela editora e comercializado assim mesmo. Sendo assim, eu resolvi postar este curso na internet, no Youtube, o que vem tendo um enorme resultado de visibilidade e procura. E estou tentando agilizar uma forma de fazer estes links e disponibilizá-los para download em um futuro próximo. Esse ano ainda pretendo disponibilizar mais dois Dvd’s pois a procura tem sido bem grande. E respondendo a pergunta: sim, eu me orgulho dessa série, principalmente por ter lutado para que ela chegasse as pessoas com o máximo de clareza e comprometimento possíveis, sem a questão mercadológica ou financeira. Mas eu tenho a intensão, ainda não sei quando, de lançar ainda mais um Dvd vídeo-aula sobre técnica, improviso e intenção no Rock. Quem sabe nos próximos dois anos eu não consiga? 

Você voltou a mostrar seu ecletismo musical através dos seus últimos trabalhos com bandas em Goiânia. Com o Extrapolation Trio e com o Versus AD você explorou mais seus lado experimental e jazzístico, enquanto que com a Bella Utopia você tem experimentado um Rock mais direto e com letras em português. Comente sobre o seu trabalho com estas bandas. 

O Extrapolation Trio era um oportunidade de registrar algo visceral artisticamente. Não considero esse trabalho algo jazzístico. Nunca fui um guitarrista de jazz. Penso que os músicos envolvidos tinham e tem esse sotaque mas a minha intenção era soar quase como um "brain storm", nada pré - estabelecido. Que de alguma forma tivesse um lado fusion e que fosse tudo referencial, por isso, o título: We are What We Hear. Por ter sido tudo gravado ao vivo e sem overdubs, eu fiquei bem satisfeito com o resultado, tudo feito em uma sessão. A parte gráfica ficou a cargo do Douglas, o baterista do Black Drawing Chalks, um artista muito talentoso. As pessoas que esperavam algo mais tradicional torceram o nariz mas a proposta musical era exatamente o que foi feito no Cd. 

Versus Ad. era o oposto, tudo escrito e elaborado previamente, músicas com longas durações, mas sempre atento à estrutura e ao formato. A espinha dorsal da banda era praticamente a formação do Black Rain, aquele lance da amizade e de estar não só fomentando a cena instrumental como estar fazendo algo juntos depois de vinte anos. A proposta do Primitivo Silêncio era quase algo "World Music"... um mix de rock, metal, hard rock, progressivo, música brasileira e pop, com a temática de uma trilogia sobre a queda da civilização ocidental. Mas apenas eu e o Julian Stella (baixista) tivemos esse comprometimento. Toda nossa parte rítmica ficou a desejar, e com isso não conseguimos dar o passo seguinte, esbarrando sempre na questão técnica. Éramos um trio, e só dois sabiam o que faziam. E como o projeto era entre amigos, apenas substituir uma peça, por pior que ela fosse, não fazia muito sentido. Sendo assim, a coisa acabou esfriando. 

Já a Bella Utopia é exatamente o contrário de tudo isso... temos um grande quilate musical, a proposta é um som direto calcado em Rock/ Metal muito bem elaborado tecnicamente, com refrão e melodias. O fato de ser cantado em português vem do talento da Isabela Eva (vocalista) em sintetizar letras que exprimem essa condição e isso é bem raro já que as bandas desse estilo quase sempre escolhem o inglês por soar mais natural. O Cd Dilema do Prisioneiro deve ser lançado no segundo semestre de 2013 e eu penso que deveria ser ouvido com carinho pois tem um "esmero" e qualidade na produção, além do alcance das músicas, ao qual deveriam ser dado créditos. Há muito tempo algo não é tão bem gravado assim por aqui. 

Eu gostaria que você comentasse sobre a atual cena de Rock/Metal, tanto no Brasil quanto no exterior. Como você avalia os álbuns que a nova geração do Metal tem lançado, o que você acha dos recentes álbuns de bandas pioneiras como Metallica, Megadeth, Slayer , Iron Maiden e Black Sabbath e como você imagina que o Metal deverá soar daqui a dez anos. 

Eu tenho ouvido muito do que vem sendo feito por aí. Com algumas exceções, na maioria das vezes, soa mais do mesmo. Acredito que existe uma carência mercadológica onde as "majors" (grandes gravadoras) acabam direcionando tendências e as suas fichas. Não deveria ser assim. As grandes bandas, essas com mais de vinte anos de carreira, acabam sendo forçadas a fazerem um resgate de seus melhores momentos e por vezes as pessoas não aceitam suas novas ideias... foi assim com o Metallica, que acabou por ser obrigado a resgatar o seu passado - o que foi feito de uma forma muito positiva. Death Magnetic é um grande disco e talvez seja duro pra essas bandas, por maiores e melhores que sejam, terem novos trabalhos e sempre terem que tocar as mesmas coisas. Você tem um álbum novo, mas faz a tour com músicas velhas. Acho o Slayer de hoje, descaracterizado pela ausência do Hanneman (nota: guitarrista fundador do Slayer falecido recentemente) e do Lombardo (nota: baterista original do Slayer) - realmente foi uma pena o que aconteceu com o Hanneman - dificilmente será o mesmo. O Megadeth, dessas bandas, foi ao meu ver o pior dos resgates; não achei positivo o que o Mustaine tentou fazer, acho que perdeu um pouco da espontaneidade... ou talvez nós, os antigos fãs, estejamos ficando velhos, chatos e exigentes. O Black Sabbath fez um grande resgate mas definitivamente não continuou de onde pararam no fim dos anos 70; por mais que alguns fãs queiram isto, não é um novo Sabotage (nota: álbum do Black Sabbath com a formação original da banda). No Brasil, o Metal é sempre ufanista e caminha segundo a tendência dos grandes... é natural isso. Fomos criados com referências. E quanto ao Metal daqui há dez anos? Ele pouco mudou na última década mas sempre vai haver novos desdobramentos do estilo, proporcionando novas tendências e alguns narizes torcidos. 

Você se vê tocando guitarra até quando? 

Não muito. Profissionalmente pelo menos. Na verdade, eu venho fazendo um processo de "desaceleração" com o instrumento. Isso quase sempre soa estranho mas eu me cansei um pouco e como artista a motivação é mais do que necessária. Eu sempre vou estar em contato com o instrumento. A composição e os registros no estúdios ainda me fascinam... mas o palco ou o comprometimento com o "mainstream", esses não mais. São quase trinta anos sem uma folga ou tempo suficiente para outras coisas e talvez tenha chegado esse momento. Por aqui, você pode se desdobrar e estar envolvido com quinze projetos com real credibilidade, que as pessoas - algumas, é claro - estão sempre pensando o contrário disso. Por isso, talvez eu sempre tenha visto tudo como um todo... como Arte. Na verdade é sempre sobre isso. Não estilo, rótulo ou vaidade. Os interesses do "business", além da falta de camaradagem, talvez sejam responsáveis pela eterna estagnação da cena, mesmo que alguns (os que dão as cartas) digam ser o melhor momento, não é! E só quem anda na contramão sabe disso. Mas eu acredito que tudo feito sinceramente, e não há outra maneira de se fazer arte, pode ter o seu lugar e momento de reconhecimento. Mas, sinceramente, eu me sinto muito resolvido e privilegiado de ter chegado até aqui por mérito próprio, com o respeito de alguns e muita música. 

Depois de tantos anos tocando guitarra, você conseguiria citar o nome dos três guitarristas que mais te influenciaram? 

Olha, depois de quase trinta anos envolvido com música, e muitos deles com guitarristas, é realmente muito complicado. É difícil ter que restringir tudo que se ouve, ou que fez parte da sua vida musical em três nomes, ou um só instrumento... Quem sabe fosse mais fácil dizer os 300 que te influenciaram! (rs). Mas se eu fosse sintetizar sinceramente o que se tornou pilar, principalmente no crescimento musical, técnico, eu diria: Yngwie Malmsteen, Jimmi Hendrix e Allan Holdsworth.





Contato de Luís Maldonalle:
maldonallemanagement@yahoo.com.br 

Site da Bella Utopia:

Leia a resenha sobre o álbum Primitivo Silêncio:


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